Pictogramas são representações gráficas simplificadas de objetos, ações ou conceitos, utilizados para comunicar informações de forma visual e universal. Esses ícones são criados para serem facilmente compreendidos, independentemente da língua falada ou da cultura de quem os observa. Desde Tóquio (1964), têm desempenhado um papel fundamental na transmissão de informações essenciais nos Jogos Olímpicos, sendo utilizados para indicar a localização de instalações esportivas, direções e serviços, auxiliando a superar barreiras linguísticas e culturais.
Por sua natureza visual e concisa, os pictogramas transmitem informações de maneira instantânea e compreensível para todos, independentemente de seu background cultural ou linguístico, ajudando a criar uma experiência unificada e inclusiva. Porém, nada disso parece ter sido uma boa justificativa para os organizadores dos Jogos Olímpicos de Paris, que revelaram, no mês de fevereiro, as novas representações gráficas dos esportes olímpicos. Os novos “pictogramas” (na verdade, ilustrações) tomam partido de um grid formado por uma linha central por onde os elementos são rebatidos, formando um efeito caleidoscópico, e são acompanhados de uma versão “brasão” (badge of honour) que acrescenta o nome do esporte em inglês. Segundo a Diretora de Marca Julie Matikhine, os pictogramas “pertencem ao passado”. O novo projeto é, nas palavras de Julie, uma tentativa dos Jogos Olímpicos de “conectar-se com o público mais jovem”.
No caso de um evento mundial, que recebe espectadores e atletas de cerca de quase 200 países, ter um elemento de comunicação universal é decisivo para permitir a rápida circulação de milhares de pessoas. Ao tomar uma decisão de enfatizar a expressão em detrimento da funcionalidade, os Jogos de Paris abriram mão da síntese em nome de um desenho rebuscado e confuso, que peca em coerência formal e sentido de unidade, além de falhar no que seria o seu principal objetivo: identificar de forma rápida um esporte olímpico. Curiosamente, o elemento humano, central nos sistemas anteriores, praticamente desaparece no projeto criado para os jogos da Cidade Luz.
Como comparação, o sistema criado para os Jogos Olímpicos do Rio em 2016 é um bom exemplo de equilíbrio entre a expressão de uma identidade própria e o pragmatismo comunicacional que, sem nunca renunciar à missão de transmitir uma mensagem clara em um ambiente de diversidade linguística e cultural, ajudou a criar a identidade dinâmica e cheia de personalidade que caracterizou a edição brasileira das Olimpíadas. Portanto, não se trata de negar a estética ou buscar uma suposta funcionalidade “pura”, e sim, de priorizar a comunicação ao invés de tratá-los como meras ilustrações para aplicar em souvenirs.
Os pictogramas evoluíram ao longo dos anos. Tornaram-se parte da paisagem e contribuiram para a construção da linguagem visual dos Jogos Olímpicos, convertendo-se em parte integrante da identidade do evento. Como representação visual universal que orienta participantes e espectadores, transcenderam as barreiras da linguagem, unindo pessoas de diferentes origens em torno de um evento global único. Caberia aos organizadores dos Jogos Olímpicos de Paris respeitar esse legado.
por Henrique Luzzardi – Diretor de Branding