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Para celebrar o Dia do Trabalho, achamos interessante explorar Cenários de Futuros Possíveis em um contexto de ascensão da Inteligência Artificial (IA). Embora já estivéssemos discutindo seus impactos ambientais e ecossistêmicos, um episódio da série South Park nos levou a refletir sobre alguns impactos da IA sobre o trabalho. No episódio, a questão central era: em um mundo totalmente automatizado, quem realizará tarefas básicas, como reparos domésticos ou montagem de móveis? Estimulados pelo questionamento, resolvemos radicalizar a provocação: se Inteligências Artificiais assumirem totalmente funções burocráticas e intelectuais, qual será o papel humano no trabalho?

Fonte: South Park Studios (Youtube)

Antes de seguir, cabe esclarecer um ponto fundamental da nossa metodologia de antecipação: todo artefato cultural — de séries a postagens em redes sociais, de arte a projetos diversos, etc — pode carregar sinais de futuros emergentes. Produções audiovisuais, como South Park, ou até criações não humanas (via IA), são expressões do Imaginário Coletivo no qual todos estamos imersos e, também, construímos diariamente. E é também onde tendências ganham voz por meio de linguagens diversas — inclusive sintéticas.  

A questão central é: se a automação absorver até mesmo habilidades cognitivas complexas, qual será o espaço para a atuação humana, para além do comando das IAs? Mais do que substituição, talvez surjam novas dimensões de valor, como trabalhos ligados à criatividade não padronizável, à gestão de crises imprevisíveis ou à manutenção de conexões éticas e emocionais. O desafio é enxergar além da eficiência e redefinir o que é indispensável em um mundo pós-digitalização de vidas e imaginários.

Fonte: Globo

Buscando explorar algumas possibilidades, e partindo da análise e interpretação de outros sinais que mapeamos, resolvemos elaborar alguns Cenários de Futuros Possíveis: 

  1. Futuros que se desdobram a partir do trabalho técnico de reparação de artefatos, sejam pessoais, profissionais, decorativos…. Esse cenário está diretamente conectado com o movimento intitulado Right to Repair, que  busca sensibilizar os consumidores e as organizações sobre o  direito ao reparo de objetos. Essa ideia está relacionada a princípios da Economia Circular – reparar é um dos “Rs” da circularidade. Os outros são recuperar, reciclar, reutilizar, reduzir, repensar, remanufaturar, recusar, redesenhar e regenerar. O movimento defende que o direito ao reparo é também uma maneira de reforçar a autonomia e a sustentabilidade, destacando que o conhecimento técnico sobre reparar coisas ainda tem um papel essencial na sociedade. Algumas marcas globais, preocupadas com o impacto negativo que deixam no Planeta, têm assumido esse “R” como base para criar novas frentes ou negócios. É o caso da Patagônia, marca de roupas e acessórios com atuação  global que recentemente estabeleceu oficinas de reparação em suas lojas. O slogan dessa nova frente de negócios é “reparar é um ato radical”, e é um convite às pessoas para repensarem o ato de consumir como circular, não linear.
  2. Outros futuros possíveis estão relacionados aos trabalhos baseados em cuidar de outros seres humanos. Se por um lado vemos cada vez mais jovens fazendo terapia psicanalítica usando IAs, por outro, dados demográficos mostram que a curva do envelhecimento da população mundial está em franca ascensão. O que isso quer dizer que tendencialmente teremos mais pessoas velhas do que jovens nas próximas décadas, o que certamente irá demandar mais gente com conhecimento e habilidades relacionadas ao cuidado de maneira integral. Afinal, é improvável – mas, não impossível – que em 10 a 15 anos tenhamos robôs humanoides capazes de realizar as mesmas atividades de fisioterapeutas, educadores físicos, terapeutas ocupacionais, enfermeiros/as, médicos, etc. Então, pessoas ainda irão ser importantes para cuidar de outras pessoas, especialmente porque existem questões éticas e emocionais centrais nessa relação, contribuindo para esse cenário ser tanto provável, quanto plausível.
  3. Outros Cenários de Futuros Possíveis tem a ver com trabalhos que demandam maior “artesanalidade”, por assim dizer. É fato que no mundo crescem os clubes de trabalhos manuais e artesanais, como crochê, tricô, cestaria, cerâmica, bordado, marcenaria, culinária, dentre outros. Esse movimento em torno desses fazeres também tem relação com a preservação de conhecimentos, algo que poderia ser perdido em um mundo dominado por tecnologias digitais e computacionais, como Inteligência Artificial. Nesse contexto, observamos como a preservação desses fazeres e saberes tem atraído muito  jovens das gerações Z e Alpha. 

Provavelmente isso acontece porque seres humanos tendem a querer o que não tem acesso, ou que não conhecem completamente. Como as tecnologias digitais são uma realidade muito presente na vida dessas gerações, esse tipo de trabalho acaba por ser mais atraente do que outros envolvendo digitalidades, ou mesmo, totalmente virtualizados. Isso reforça a importância de educar para explorar mais a criatividade humana, estimulando as pessoas a pensarem e projetarem para além do que as IAs podem oferecer de soluções.

Fonte: Pexels

Certamente, muitas transformações e impactos ainda vão acontecer não apenas no trabalho, mas, na vida em geral. Para além de ser sobre ou aquilo, o interessante é termos em mente que esses cenários que apresentamos são algumas possibilidades dentro de um grande universo de outras possibilidades, todas com potencial de acontecerem ao mesmo tempo. Talvez, a maior habilidade que podemos desenvolver é a de lidar com a realidade de modo plural, com diferentes caminhos se abrindo, ou se sobrepondo, ou se conectando a vias totalmente surpreendentes. Pensar por antecipação não tem a ver com prospectar só o que desejamos, mas, também o que não queremos – ou não gostaríamos – que acontecesse. Se todos os futuros são possíveis, antecipar pode contribuir na construção de cenários em que as Inteligências Artificiais sejam utilizadas como mecanismos de transformação positiva do trabalho, de modos adaptados às diferentes realidades humanas. Então, vamos começar essa jornada exploratória juntos?

Créditos: Este conteúdo foi produzido pela equipe do Lab de Antecipação da Luzz Design & Branding, com colaboração de Cesar Kieling

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